
Um dos objetivo de qualquer idioma deve ser a inclusão de todes. Dito isto, é fundamental termos em conta que existem mais do que apenas dois géneros e que são igualmente merecedores de reconhecimento, de modo a que a que qualquer pessoa se possa sentir abrangida por algo tão comum no nosso quotidiano, como uma língua. É este o principal propósito da neolinguagem, não assassinar o nosso português, mas sim incluir todos. Trata-se de uma alternativa que surge como resposta ao nosso idioma opressor, que só tem representação binária.
O significa ser não binário?
Sim, ao contrário do que toda a estrutura social em que estás inserido te leva crer, existem mais do que dois géneros, que caem no termo “não-binário”, que designa qualquer um que não se identifica com o género que lhe foi atribuído ao nascimento. Esta designação, como o nome indica, recusa a bineriedade dos géneros feminino e masculino. Encontra-se incluído na comunidade LGBTQ+ pelo vocábulo Queer+, um hiperónimo que serve para incluir outros tipos de identidade de gênero e sexualidade, já que uma pessoa não-binária poderá identificar-se com ambos os géneros feminino e masculino, ou até com nenhum.
É verdade que esta realidade retrata uma minoria, porém foi através do papel crucial das redes sociais como meio de propagação de conhecimento e consciencialização que muites tiveram a oportunidade de descobrir e assumir a sua identidade de género.
O género não-binário não se trata apenas de uma consequência de uma sociedade mais moderna – este encontra-se normatizado em várias culturas, como é o caso da mexicana, indiana ou havaiana. Referenciado como o terceiro género, crê-se que se trata da posse “os dois espíritos”, neste caso, o masculino e o feminino.
O que é a neolinguagem?
O nosso português é, tal como muitas outras línguas europeias, proveniente do latim e, por isso, uma grande parcela do seu vocabulário recorre, de forma exclusica, à dualidade dos géneros, o que dificulta o sentimento de inclusão na sociedade por parte de pessoas não-binárias. A linguagem é uma estrutura que espelha a sociedade. O sistema opressor continua a reger, contudo, ao abolir a predominância do pronome masculino, conquistamos, finalmente, neutralidade no nosso vocabulário.
Foi através das redes sociais que surgiu a neolinguagem, que, como já referi, visa incluir todos os géneros. Como ainda é muito recente, esta ainda não detém um grande reconhecimento, embora seja de salientar uma crescente adesão. Se cada um de nós a começasse a utilizar, seria um grande passo no caminho para uma sociedade mais inclusiva. Deste modo, poder-se-ia trazer a ideia de, futuramente, ensinar nas escolas uma linguagem neutra e o porquê de esta ser tão importante – trata-se de um problema que não podemos ignorar.
Como funciona?
Na língua inglesa revela-se bastante mais fácil referir-se a pessoas não binárias, já qu os pronomes não-binários são “they” ou “them”, e a maioria dos adjetivos não possuem género, ao contrário da língua portuguesa.
A maneira mais correta para mencionar alguém de uma maneira neutra deve ser através do pronome “elu” (ele, ela, elu) ou então pelo próprio nome – isto aplica-se tanto na oralidade, como na escrita. Temos então o sistema Elu, um sistema linguagem neutra portuguesa, que pode ser dividido em:
Pronomes
Pessoal: elu(s); sendo os seus oblíquos -e(s), -le(s), -ne(s); ê (singular), es (plural)
Contrações: nelu(s), delu(s)
Demonstrativos: aquelu(s), essu(s), estu(s), mesme(s), próprie(s)
Possessivos: minhe(s) [formal], mi(s) [informal], sue(s), tue(s), nosse(s), vosse(s)
Indefinidos: outre(s), quante(s), tante(s), tode(s),váries, muite(s), pouque(s), algume(s), nenhume(s)
Artigos
Definidos: ê [singular], es [plural]
Contrações: de(s), dume(s), dessu(s), destu(s), daquelu(s), ne(s), nume(s), nessu(s), nestu(s), naquelu(s), pele(s), ae(s)
Numerais
Ambas, ambos, ambes
Meia(s), meio(s), meie(s)
Um(ns), uma(s), ume(s)
Duas, dois, dues
Elu- desinências, como funciona
-a(s), -o(s), e(s) (ex: menine)
-ca, -co, -que (ex: médique)
-ga, -go, gue (ex: amigue)
-ra, -r, -re [singular]; -ries [plurar] (ex: professore\professories)
-ça, -ço, ce (ex: moce)
-ã(s)\-a\-ao\-ona\-esa, -ão(s)\-ões\-e\-ães\-one (ex: irmãe, ladrãe, patroe, chorone, baronese, duquese)
Aproveito para agradecer à Beatriz Sá pela revisão do artigo. Espero ter conseguido tornar a vida de pessoas não-binárias mais confortável, assim como ampliar informação existente sobre este tópico.
Era mais bacano se, em vez de adicionar mais um tipo de pronomes, eliminássemos a existência dos outros dois e usar um pronome para todos os géneros.
Ajuda a baixar o sofrimento nas aulas de português também.